Disputa da ‘blusinha’ passa até por mãe de prefeito de Maceió
A taxação em 20% de compras de até US$ 50 no exterior está na berlinda e as razões passam pela mãe do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC, e pela prima do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), Jó Pereira, que é secretária de Educação de Maceió.
O enrosco da politica de Alagoas, de onde é também o relator do projeto de lei no Senado, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), envolve as eleições deste ano, para a prefeitura da capital, e o jogo para o pleito de 2026.
Está avançada a negociação para que Cunha seja candidato a vice-prefeito na chapa de reeleição de JHC, acordo que interessa a família Caldas, porque a mãe do prefeito é a 1ª suplente de Cunha e assumiria a vaga no Senado em caso de vitória.
Essa articulação, contudo, desagrada Lira, porque embaralha o jogo de 2026 — em que o deputado pretende disputar uma vaga ao Senado.
Na aliança com JHC, Lira havia acordado que indicaria o vice do prefeito neste ano. Sua intenção era colocar na vaga sua prima Jó Pereira.
Mas, para JHC, faz mais sentido hoje garantir a mãe no Senado, segurando uma vaga para ele próprio disputar em 2026.
Mas porque um senador, no caso Rodrigo Cunha, abriria mão da cadeira em Brasília para ocupar a vice-prefeitura? A leitura de muitos políticos em Alagoas é que ele teria poucas chances de se reeleger.
Retirada de pauta
Ao retirar a taxação das compras de até US$ 50 da pauta, Cunha ainda joga no colo de Lira o peso de ter defendido um aumento de impostos que bate no bolso de parte expressiva da população, em especial jovens que se utilizam dos sites chineses.
As articulações acabaram por rachar de vez bloco politico anti-Calheiros — contrário ao senador Renan Calheiros, do MDB de Alagoas —, que tem como principal meta reeleger Renan ao Senado, o que o tornaria o mais longevo senador da história recente da Casa.
No meio de tudo isso, a votação da taxação das compras de até US$ 50 ficou sem acordo. Depois do relator retirar o tema — corpo estranho, ou “jabuti”, como se diz no Congresso — do projeto do Mover, um texto sobre transição energética, houve uma reunião de líderes e o governo não conseguiu acordo para aprovar.
Será no voto a voto, o que colocará os senadores frente a frente com uma taxação para lá de impopular.
Além do governo, que ganharia arrecadação, a taxação é importante para o setor de varejo no Brasil, que reclama da concorrência desleal dos produtos chineses que chegam com carga de impostos menor.
Na terça-feira (4), em entrevista à Globonews, Rodrigo Cunha rejeitou o argumento de que a política de Alagoas seja o motivo para cortar do PL do Mover a “taxa das blusinhas”.
Segundo ele, o item era “corpo estranho” (ele cortou outros jabutis também) e, por ser de oposição ao governo, reforça que não é a favor do aumento da carga tributária. Mas não negou que pode vir a ser vice de JHC em outubro.