Crise internacional e prisão decretada: Carla Zambelli se isola politicamente após fuga para os EUA
A recente fuga de Carla Zambelli para os Estados Unidos trouxe um novo capítulo à já conturbada trajetória da deputada federal. Condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por sua participação em ataques aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, a parlamentar tentou escapar da justiça brasileira e se transferir para a Europa, alegando perseguição política. No entanto, especialistas avaliam que sua decisão não só agravou sua situação jurídica, como também acentuou seu isolamento político, inclusive dentro do próprio partido e da base bolsonarista.
A tentativa de Carla Zambelli de sair dos Estados Unidos rumo à Itália, onde possui cidadania, gerou reação imediata das autoridades brasileiras e internacionais. A Procuradoria-Geral da República pediu sua prisão preventiva, e o ministro Alexandre de Moraes autorizou a inclusão do nome da deputada na lista vermelha da Interpol. A fuga de Carla Zambelli foi considerada um movimento arriscado e mal calculado, uma vez que não apenas desrespeita as instituições brasileiras, como também provoca incômodo em países que historicamente têm relações diplomáticas sensíveis com o Brasil, como a própria Itália.
Segundo o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, Carla Zambelli agiu com falta de inteligência estratégica ao se evadir do Brasil mesmo com uma condenação em curso. Sua tentativa de se proteger em território europeu acendeu alertas no parlamento italiano, onde um deputado já questionou o governo sobre o caso, o mesmo que, em 2023, criticou tentativas de concessão de cidadania à família Bolsonaro. A situação de Carla Zambelli expôs não apenas sua fragilidade jurídica, mas também seu distanciamento de aliados políticos que antes a apoiavam com firmeza.
Desde o segundo turno das eleições de 2022, Carla Zambelli tem enfrentado dificuldades em reconstruir sua imagem dentro da base bolsonarista. Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos passaram a enxergá-la como um elemento problemático após uma série de ações polêmicas que, segundo eles, prejudicaram a campanha presidencial. Com isso, Carla Zambelli passou a atuar de maneira isolada, sem conseguir respaldo efetivo de seu partido, o PL, que hoje evita se comprometer diretamente com sua defesa.
A retórica adotada por Carla Zambelli desde então reforça uma narrativa de vitimização e perseguição institucional. A deputada afirma ser alvo de uma campanha do Supremo Tribunal Federal para silenciar vozes conservadoras, o que, para analistas, apenas contribui para a radicalização do discurso político. Essa postura, no entanto, não encontra mais o mesmo apoio de outrora. A base bolsonarista, antes unificada, hoje demonstra sinais de fadiga diante das constantes crises provocadas por figuras como Carla Zambelli.
A decisão do STF, segundo o colunista Ronilso Pacheco, não foi apenas uma resposta à fuga, mas também uma reação à constante afronta institucional promovida por Carla Zambelli. Sua insistência em desafiar decisões judiciais e alimentar teorias conspiratórias sobre liberdade de expressão representa um risco real à estabilidade democrática brasileira. Mesmo que sua base mais fiel continue ativa, ela se mostra cada vez menor e menos influente no cenário político nacional.
A situação de Carla Zambelli pode ainda gerar implicações diplomáticas. A tentativa de obter respaldo na Itália remete ao histórico caso Cesare Battisti, que gerou atritos entre Brasil e Itália por anos. Com um governo italiano atualmente mais alinhado à direita, muitos acreditavam que Zambelli poderia contar com alguma forma de solidariedade política. No entanto, a maneira como conduziu sua fuga despertou críticas inclusive de parlamentares italianos, comprometendo qualquer possibilidade de apoio institucional no exterior.
O Partido Liberal, ao qual Carla Zambelli é filiada, terá agora um desafio monumental pela frente. Além da pressão pública e da imagem desgastada, precisará decidir se vale a pena manter a parlamentar nos quadros da sigla ou se deve afastá-la para preservar sua reputação. O processo de extradição, somado à inclusão de Carla Zambelli na Interpol, reforça a gravidade da situação. O cenário aponta para uma trajetória descendente na carreira política da deputada, cada vez mais isolada e com menos instrumentos de defesa.
O caso Carla Zambelli entra para a história política recente como um exemplo de como decisões impensadas e desrespeito às instituições podem resultar em consequências drásticas. Ao tentar fugir da Justiça, a deputada acelerou sua queda política e se tornou um símbolo de desgaste dentro da extrema-direita brasileira. As próximas semanas serão cruciais para entender os desdobramentos diplomáticos e jurídicos de um caso que segue repercutindo dentro e fora do Brasil.
Autor: Weber Klein