Tecnologia

Como a Ciência Indica um Caminho para Superar a Crise Climática no Brasil

A ciência coloca sobre a mesa uma rota concreta para enfrentar a crise climática, mas alerta que a falta de financiamento e a pressão de lobbies poderosos podem minar qualquer progresso real. No debate recente promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação durante a COP30, reitores e pesquisadores defenderam que já há soluções tecnológicas viáveis, mas sem compromisso político e recursos estruturados, elas dificilmente serão escaláveis para todo o país. Esse cenário reforça que enfrentar a emergência climática exige mais do que conhecimento: requer vontade institucional e financiamento contínuo.

Durante a conferência, foi destacado que o Brasil possui vantagens únicas para aproveitar fontes de energia pouco exploradas, como os oceanos. Correntes marítimas intensas e gradientes térmicos estão entre os elementos favoráveis para gerar energia de maneira mais constante do que a solar ou eólica tradicionais. No entanto, para transformar esse potencial em realidade, é preciso investir em infraestrutura de rede energética e pesquisa aplicada, o que esbarra justamente na escassez de recursos comprometidos e no receio de grupos que se beneficiam da matriz energética atual. Sem esse apoio, ideias promissoras podem permanecer restritas ao papel de estudo.

Também foi evidenciado que a adaptação ao clima atual requer novos processos para lidar com eventos extremos mais frequentes. A ciência sugere que o Brasil precisa desenvolver uma resiliência mais sofisticada, capaz de se antecipar a enchentes, secas severas e outras catástrofes. No debate técnico, reitores mostraram instrumentos prontos, como protocolos de emergência climática baseados em dados meteorológicos e sensores costeiros para monitoramento oceânico, mas afirmaram que a implementação desse tipo de estratégia depende de financiamento robusto e coordenado, algo que ainda não está garantido.

Além disso, os pesquisadores enfatizaram que a mitigação não pode se apoiar apenas no reflorestamento ou na compensação de carbono via florestas, porque há limites reais para a capacidade de sequestro de dióxido de carbono por ecossistemas. A ciência alerta para a necessidade de remover carbono diretamente da atmosfera, o que demanda tecnologia, pesquisa e investimentos expressivos. Sem esses recursos, as estratégias de compensação podem ser insuficientes para frear as mudanças aceleradas do clima.

No campo agroalimentar, os estudos apresentados reclamam uma reestruturação profunda. Cientistas sugerem uma transição para sistemas mais sustentáveis, com uso de bioinsumos, agroflorestas e policultivos, que reduziria significativamente as emissões derivadas da produção de alimentos. Essa mudança, segundo eles, também aumentaria a produtividade de maneira ambientalmente consciente, mas depende de políticas públicas que incentivem agricultores e inovações tecnológicas. Mais uma vez, esbarra-se na escassez de financiamento e na resistência de setores tradicionais.

Outro ponto central levantado é o papel dos lobbies no cenário climático nacional. Os pesquisadores denunciaram a presença de grupos organizados que buscam manter a atual lógica de uso de combustíveis fósseis e práticas agrícolas intensivas. Essas influências dificultam mudanças estruturais e pressionam contra políticas de longo prazo para proteção ambiental. A ciência mostra que, sem neutralizar essas pressões, qualquer proposta de solução climática estará em risco, porque os interesses econômicos tradicionais podem se sobrepor à urgência ambiental.

Mesmo com esses desafios, a comunidade científica mostrou-se pronta para liderar uma rede de ação nacional em prol da sustentabilidade climática. As trocas entre universidades federais, centros de pesquisa e o governo indicam que há base técnica consolidada para construir políticas de adaptação e mitigação eficaces. O que falta, segundo os especialistas, é transformar esse diálogo em compromissos concretos e duradouros, alinhando ciência, política pública e financiamento de forma estratégica.

Em resumo, a discussão recente promovida pelo MCTI evidencia que a ciência brasileira tem um papel central para superar a crise climática, oferecendo rotas tecnológicas e estratégicas viáveis. Contudo, sem uma estrutura política que apoie essas ideias com recursos consistentes e coragem para enfrentar interesses poderosos, as soluções podem jamais sair do papel. A rota existe, mas o desafio agora é converter conhecimento em ação política e investimentos que garantam um futuro sustentável.

Autor: Weber Klein

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